sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Meu mentor, Michael Jackson

Eu costumava falar com Michael durante três horas por dia. Nunca descobri como ele conseguia arranjar tanto tempo, já que parecia tão ocupado, mas ele sempre me telefonava e nós conversávamos, conversávamos e conversávamos. Ele tinha um celular que usava para falar comigo e me mandar mensagens. Tudo isso fazia parte de uma amizade que durou mais de 20 anos.
Conheci o Michael quando ele estava começando  a turnê Bad, em 1987. Eu tinha 5 anos nessa época, e a equipe de Michael organizou uma competição de dança em todos os países, então, eu decidi participar em Brisbane (*cidade australiana). Me lembro de dançar “Thriller” enquanto assistia ao clipe quando tinha apenas 2 anos de idade! A minha mãe tinha uma fita e, quando assisti, simplesmente enlouqueci! Eu costumava correr assustado para a cozinha toda vez que o lobisomem aparecia na tela. Quando eu fiz 3 anos, já tinha aprendido a coreografia inteira da música.
Eu acabei ganhando a competição de dança. Fomos ver um show do Michael em Brisbane e fui apresentado a ele no “meet and greet”. Me lembro de estar usando uma roupa personalizada de “Bad” – peguei o cinto da minha mãe e dei umas cinco voltas ao meu redor. Michael ficou impressionado e me perguntou se eu dançava. Eu respondi a ele que sim e então, ele me disse: “Você gostaria de dançar comigo no show de amanhã?”.
Eu não conseguia acreditar. Ele se referia ao grande show da noite seguinte, em Brisbane. Sua ideia era de que eu apareceria no palco para dançar Bad, a última música do show. Ele tinha trazido algumas crianças órfãs, por isso, achou que seria legal que eu também aparecesse no final da apresentação de Bad. No final da música, estávamos todos no palco, Stevie Wonder também estava lá, Michael veio até a mim e disse: “Vamos lá!”. Levei um tempo para entender que aquilo significava algo como “Dê o seu show!”. Então, corri para a frente do palco e joguei o meu chapéu pro público, que, imediatamente, começou a delirar! Quando me virei, Michael já estava dizendo adeus para a multidão, as outras crianças já haviam ido embora e Stevie Wonder estava sendo dirigido aos bastidores.
Quando percebi que Michael estava me chamando, saí correndo. Depois, minha mãe e eu passamos duas horas no hotel com Michael e nos tornamos seus amigos. Ele nos mostrou seus novos clipes para o filme Moonwalker e nós conversamos muito. Nós realmente não pudemos manter contato após isso, mas eu entrei numa companhia de dança – literalmente, no dia seguinte ao show de Michael -, e, dois anos depois, eu fui aos Estados Unidos para conhecer a Disneylândia. Entrei em contato com Michael através de pessoas de sua equipe, e ele se lembrou de mim! Eu e minha família fomos ao estúdio Record One, onde seu próximo álbum, Dangerous, estava sendo mixado. Mostrei a ele alguns dos meus vídeos de dança e ele me perguntou: “Você e a sua família gostariam de ir à Neverland essa noite?”. Claro que todos nós fomos de acordo e acabamos ficando no rancho por duas semanas.
Nossa amizade floresceu. Durante aqueles 14 dias, ele me levava ao seu estúdio de dança, colocava alguma música e nós dançávamos por horas! Nós costumávamos sentar lá e assistir a filmes como As Tartarugas Ninjas. Uma vez, saímos de Neverland no carro de Michael, escutando música no último volume!
Ele ainda me ensinou a fazer o moonwalk. Nós estávamos em seu estúdio de dança, e Michael me mostrou passo por passo. Eu não conseguia dormir a noite toda… A emoção de deslizar para trás ao lado do cara que fez tornou esse passo famoso era indiscritível!
Anos mais tarde, eu e minha mãe nos mudamos para os Estados Unidos para que eu conseguisse realizar o meu sonho de trabalhar com a dança, e Michael nos ajudou muito! Ele me deu a oportunidade de começar bem me colocando num de seus clipes mais famosos, Black Or White. O papel que ele assumiu comigo era de um verdadeiro mentor.
Quando eu tinha 7 anos, ele me disse que eu seria um diretor de cinema, e realmente foi isso que me tornei. Michael criou uma sede de conhecimento em mim. Certa vez, um mini estúdio de gravação apareceu na minha porta, mas o mais legal foi que Michael me impediu de me tornar uma criança mimada. Ele dizia: “Isto é para você, mas eu quero ver você fazer algo com isso. Não é pense que é um dado adquirido ou eu vou levar de volta”.
A última vez que o vi foi em julho de 2008. Eu estava em Las Vegas, trabalhando num programa e ele estava morando lá. Eu, minha esposa, Michael e seus três filhos fizemos um churrasco. Foi a coisa mais normal do mundo. Eu e minha esposa fomos à Whole Foods (* supermercado da cidade) e compramos coisas para cozinhar. Mas quando chegamos lá, ele já tinha improvisado tudo. Eu disse: “Cara, por que você trouxe tanta comida? Nós já temos o suficiente aqui”. Me lembro de ter cozinhado no lado de fora da casa, enquanto Michael estava sentado, embaixo de um guarda-chuva.
Tivemos grandes momentos, ele era uma pessoa tão carinhosa! Acima de tudo, sentirei falta dessas conversas pelo telefone. Eu ainda tenho o telefone que usávamos para conversar. Simplesmente não suporto a ideia de apagar aquelas mensagens…
Michael Jackson mudou o mundo – e, pessoalmente, a minha vida – para sempre. Ele é a razão pela qual eu danço, a razão pela qual eu faço música, e uma das principais razões para eu acreditar na bondade pura da espécie humana. Ele foi meu amigo por mais de 20 anos. Sua música, sua dança, suas palavras de inspiração e encorajamento e seu amor incondicional vão viver dentro de mim eternamente. Vou sentir muita saudade dele, mas sei que agora ele está em paz e encantando os céus com belas músicas e um moonwalk.
- Por Wade Robson

(Na foto acima, uma pequena nota de um jornal que narrava a amizade de Michael com Wade, que, na época, era o seu “protegido“. A mãe de Wade cita algo que Michael costumava dizer, que, juntos, eles mudariam o mundo)
Wade, atualmente, trabalha como jurado e coreógrafo da série de televisão da Fox, “So You Think You Can Dance?”.
FONTE: http://falandodemichaeljackson.wordpress.com/2011/03/29/meu-mentor-michael-jackson/

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