O comboio seguiu para Detroit, onde Taylor os hospedou em seu apartamento. No dia seguinte, ele os levou para o novo centro da Motown na avenida Woodward, que a companhia havia adquirido quando superou a Hitsville, sua sede no West Grand Boulevard. Ele os conduziu direto para o escritório executivo de Ralph Seltzer, o vice-presidente, a quem ele avisou que contratos pela sua descoberta seriam requisitados imediatamente, assim que Berry colocasse o olho e o ouvido no que seria certamente “a base da companhia”.
Seltzer informou-lhes que o presidente estava na Califórnia e praticamente inacessível, sugerindo que eles gravassem uma fita demo para deixá-la para o retorno do Sr. Gordy. “Eu disse: ‘Cara, você está maluco? Não temos tempo de fazer demo nenhuma. Me dê o número de Berry. Ele precisa saber disso agora. Esse é um material milionário! É maior que os Beatles!’ Eu estava exaltado e vociferando. A porta estava aberta e as crianças estavam no hall. Normam Whitfield aproximou-se e disse: ‘Bob Taylor! Que diabos está acontecendo? Quem são esses negrinhos correndo aqui?’ Eu disse: ‘Whit, estou fazendo negócios aqui.’ Nós éramos amigos, mas ambos éramos descarados.
“Ralph Selzter não estava querendo dar o número de Berry, mas eu sabia que Norman o tinha. Assim que ele informou, liguei da mesa de Seltzer. Consegui falar com ele e comecei a vociferar de novo: ‘Berry, eu tenho O OURO para você, bem aqui no escritório agora. Você não vai acreditar que um deles tem apenas oito anos de idade [na verdade, Michael já tinha nove, quase dez anos], você não vai acreditar no que esses garotos podem fazer!’. Então, Berry me disse para levar o grupo ao décimo andar e falar com Johnny Bristol para fazer um videotape que Johnny enviaria para ele naquela noite”.
Leitores assíduos da biblioteca Motown notarão que o relato de Bobby Taylor difere substancialmente daquele da autobiografia de Berry Gordy, “To Be Loved”, que credita à Suzanne DePasse o fato de contar-lhe sobre o grupo, e a ele mesmo a filmagem do teste. A biografia de Michael Jackson de J. Randy Taraborelli, “The Magic and the Madness”, relata Gordy estando na Califórnia, mas DePasse e Selter supervisionando a filmagem. Taylor disputa ambos os créditos.
“Não”, ele afirma veementemente, “isso é tolice. Lorota! Suzanne DePasse não estava em lugar nenhum próximo ao projeto, muito menos Diana Ross descobriu os Jackson 5. Todo o trabalho pesado foi feito por Bobby Taylor e mais ninguém. Minha esposa cozinhou e limpou para eles, meu irmão Roland fez o cabelo deles e minha cunhada Doris desenhou as roupas deles com Ruthie West. Era a família Jackson e a família Taylor. DePasse não apareceu até um longo tempo depois que chegamos à Califórnia, e esta é a pura verdade. Eu nunca fui pago, então ao menos deveria receber algum crédito pelo que fiz.”
Enquanto os contratos eram negociados – Joe Jakcson tinha previamente entrado em acordo com uma companhia local em Gary – as crianças dividiam-se entre a escola em Indiana e o apartamento de Taylor em Detroit. “Isto foi enquanto eu tinha o apartamento”, Bobby ri. “Ter todos esses hóspedes jovens e turbulentos sempre por perto, fazendo música e travessuras, não combinou bem com meus vizinhos. Escute isto: meu irmão mais novo e Michael tinham fama de fazer xixi nas pessoas perto da porta. E eles subiam da minha sacada para a de cima e depois para a outra só para verem um casal fazendo sexo! E isto era no 19º andar! Moleques malucos. Não muito tempo depois, fui convidado a deixar o prédio”. Taylor então encontrou uma casa, segundo ele mais adaptada ao constante influxo dos Jacksons.
“Bobby cuidou deles por um tempo”, Smokey Robinson escreveu em sua autobiografia. “De fato, o pequeno Michael de 9 anos de idade costumava amar dirigir o golden cart quando Bobby e eu estávamos no campo de golf. Michael era uma criança adorável e estranha. Eu sempre o vi como uma velha alma no corpo de um garoto… Você sentia como se ele tivesse vivido outras vidas, ele parecia tão velho para ser tão jovem. Ele também foi um aluno astuto. Ouvia e assistia às performances dos outros como um falcão, sempre aprendendo… Era claro que aquela criança tinha uma projeção pessoal na dança. Ele tinha atitude, era determinado, intenso, o maior talento que havíamos visto desde Diana.”
O grupo havia feito algumas gravações preliminares sob supervisão de Taylor em Detroit, a maioria de covers do catálogo Jobete. Isto continuou em L.A. durante 1969, e Taylor colocou o inexperiente Michael à prova num estúdio. “Eu fazia pouquíssimos ensaios vocais”, ele explica. “Eu gostava de ir ao estúdio quase sem aquecimento e procurar que uma combustão espontânea acontecesse. No início, Michael estava no meio de uma música e começava a fazer ‘Ooh ooh’. Eu dizia: ‘Que coisa é essa de ‘ooh’? Isto é James Brown, não você. Traga seu traseiro – era assim que eu falava com ele – traga seu estúpido traseiro aqui’. Então eu cantava e dizia: ‘Você acha que pode chegar próximo do que fiz, seu punkzinho?’ Então eu virava de costas enquanto ele cantava de novo. Sabe de uma coisa? Toda vez que eu o desafiava, o pequeno arrebentava. Trazia-me lágrimas aos olhos”. Seu método para gravar os backing vocals, onde ele usava apenas Michael, Jermaine e Jackie, era bem diferente. “Eu estava imaginando como eu ia conseguir que aqueles garotos fizessem exatamente o que eu precisava que eles fizessem”, Taylor ri sutilmente, “e daí veio-me a luz: garotas! Então eu costumava contratar garotas para irem ao estúdio dar uma volta, sentar e assistir. Sei como garotos são… Eles sempre dão o melhor de si se há uma garota bonita que eles queiram impressionar.”
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