The Washington Post, 11 de dezembro de 1983
Por: Tom Shales
Mil-novecentos-e-oitenta-e-três. O ano de ‘O Dia Seguinte’ e de Michael Jackson.
O ano da’ Invasão de Granada’ e de Michael Jackson.
Das bonecas’ Cabbage Patch’ e de Michael Jackson.
E Michael Jackson e Michael Jackson e Michael Jackson. E Thriller de Michael Jackson.
Você ouve muito o nome de Michael Jackson nesses dias. O seu novo espetacular videoclipe deve ser o curta-metragem mais esperado e comentado de todos os tempos – pelo menos desde The Great Train Robbery em 1903. O show musical de comédia e horror com 14 minutos estreou na MTV, o altamente popular canal de rock, em 2 de dezembro e o exibe cinco vezes por dia desde então. Ele criou um burburinho furioso como acontece com praticamente tudo que Michael Jackson faz, e levou os videos musicais a um novo reino de aventurismo e respeitabilidade.
Onde termina a histeria manufaturada e começa o entusiasmo espontâneo é difícil discernir, mas não é uma dificuldade dizer que Thriller é um sucesso automático. Embora uma decepção enquanto filme, é facilmente saboreado como mais um artefato nos anais da Jacksonmania contemporânea. As crianças de hoje são as novas Jacksonianas. Elas amam Michael Jackson, não se cansam de Michael Jackson, elas desejam estar perto de Michael Jackson. Finalmente elas escolheram eleger uma sensação que é sensacional.
Depois que a exibição exclusiva da MTV termine, Thriller vai aparecer no canal de tv à cabo Showtime, começando em 13 de dezembro – a um custo estimado de $300,00 para a Showtime. A Home Box Office desistiu de Thriller, diz um porta-voz da HBO, quando a equipe de Jackson exigiu um pagamento de $800,000; um porta-voz da MTV afirma que o canal não pagou pelo clipe mas que pagou uma soma não divulgada (fala-se em $120,000) por um documentário de 56 minutos sobre os bastidores do filme. Os VJ’s presunçosos da MTV se referem a Thriller como “um curta-metragem” porque a MTV teme que outros artistas botem na cabaça que eles também deveriam ser pagos pelos seus videos exibidos no canal, atualmente dados de graça à MTV pelas gravadoras. Um porta-voz da HBO diz, “Estão chamando de curta-metragem, mas pela maior parte, é um clipe longo.”
Em 23 de dezembro, Thriller vai ter sua primeira exibição comercial no popular Friday Night Videos da NBC. O produtor executivo Dick Ebersol conta que a NBC pagou apenas o valor comum de $1,250 referentes às taxas administrativas pelo video. Ele está reorganizando os intervalos comerciais daquela noite para acomodar o 14 minutos do clipe de $500,000. Os Betamaxes (*videocassetes da época) por toda a nação estarão no ponto para o momento.
E localmente, na noite de quarta, Thriller vai ser exibido no Washington’s Wax Museu, a danceteria que exibe videoclipes, e parece certo que será um pandemônio. O video será projetado em três telões de 3 metros cada, um de 1,80m e quatro monitores de 50cm da Sony, com o audio conectado no que o programador de video Eric Kulberg chama de o “super-duper sistema de som” do clube.
Kulberg diz que ele considera Michael Jackson o maior “chute no joelho” em termos de programação de videos para danceterias, e ele diz isto como um elogio. “Eu sei que quando eu colocar qualquer coisa do Michael Jackson, vamos ter 50 pessoas dançando imediatamente na pista,” ele conta. “Nunca falha. Não há nada no cenário atual de clipes que se compara a ele.”
Em adição ao video, o documentário The Making of Michael Jackson’s Thriller, que inclui tanto os bastidores como o curta completo, será exibido na MTV e em 15 de dezembro embalado para vendas (por $29,95) pela Vestron Video, em Beta HiFi (stereo) e nos formatos de fita VHS e CED e Laser videodisc. Você não encontra muitos filmes de uma hora sobre bastidores de fimes de 14 minutos, mas este é um conjunto altamente divertido que inclui a performance arrasadora do ano, a Billie Jean de Michael Jackson no nostálgico especial musical Motown 25: Yesterday, Today, Forever. Estes cinco minutos contém mais excitação combustiva do que todos os 100 minutos de Flashdance.
No Making Of, Jackson relembra que no dia após a exibição, Fred Astaire o telefonou para contar que havia assistido ao número de Billie Jean várias e várias vezes e para dizer a Jackson, “Você é incrível. Você é um dançarino infernal”. De um dançarino infernal para o outro. Na música rock e pop, qualquer um que chega perto de um microfone é eufemicamente chamado de “artista”. Poucos se qualificam para o termo. Michael Jackson se qualifica. Como fenômeno, ele é a maior coisa desde Jolson. Não é difícil de imaginar ele se tornando o artista negro mais popular de todos os tempos.
Jackson também estrela no atual video No. 1 Say Say Say com Paul McCartney. Há um momento hilário quando, num terno xadrez, Jackson dança por um palco de vaudeville, suas pernas longas parecendo levá-lo à distância em apenas alguns passos. Infelizmente, o sempre insípido McCartney escreveu a canção, supervisionou o video, e devota a maior parte do tempo do clipe a si mesmo e sua mulher, Linda. É um tributo de mão fechada à popularidade de Jackson, que faz McCartney se sentir tão ameaçado. Paul não costumava cantar com três outros caras?
A MTV é direcionada para o grupo de 12-a-34 anos. Claro que você pode ser mais novo do que 12 e mais velho do que 34 e ser absolutamente fascinado por Michael Jackson. A força jovem, a voz de menino, a musicalidade inconfundível, o rosto de feições delicadas, a androginia provocativa. A co-estrela de Jackson em Thriller é nova nas telas e se chama Ola Ray. Ela aparece muito atraente em um sweater rosa quando o video começa. Mas ninguém é mais bonito do que Michael Jackson.
Thriller é a canção-tema do LP de enorme sucesso de Jackson, ainda um dos mais vendidos depois de um ano lançado. Mais de 11 milhões de cópias foram vendidas neste país, 20 milhões no mundo todo, e seis músicas de sucessos saíram do álbum (incluindo Billie Jeane Beat It, ambas também produzidas em videos). Mais 650,000 cópias do disco foram vendidas durante a semana que se seguiu após a estréia do clipe na MTV o que, de acordo com o porta-voz de Jackson, soma mais cópias do que em qualquer outra semana desde o lançamento do LP.
Apesar de divertida e cativante, Thriller, que inclui uma narração assustadora de Vincent Price, não é precisamente a canção que alguém pensaria em produzir para um video longo. É menos interessante do que outras canções de Jackson. Mas a decepção crucial do video é que assim como Jackson se deixou ser mal usado por McCartney, ele caiu vítima dos conceitos vulgares do diretor John Landis, cuja meta neste filme parece ser reciclar material de seu longa-metragem Um Lobisomem Americano em Londres, que foi um enorme fracasso nas bilheterias. Aparentemente Landis pretende forçá-lo na América usando Jackson de isca.
“Eu esperava mais energia nele,” diz um insider da TV sobre o video. “É mais John Landis do que Michael Jackson.” Há erros cruciais. O filme é muito escuro, como se fosse filmado para o cinema e não para a televisão (ele passou em um cinema de Los Angeles em novembro para ser qualificado para o Oscar na categoria de curta-metragens). E enquanto pode ser uma novidade ver Jackson transformado em um monstro peludo, seus fãs não querem vê-lo sob camadas de cabelo e latéx. Eles querem vê-lo como ele é, e querem vê-lo dançar.
Como nota Ola Ray sobre o astro, “Michael Jackson é ainda Michael Jackson como um zumbi. Michael Jackson não é Michael Jackson como um lobisomem,” quando sob uma tonelada de maquiagem.
Ele dança, entretanto, nos melhores quatro ou cinco minutos do video, flertando com Ray quando eles deixam o cinema e então se unindo a um grupo zumbis (parecendo refugiados do A Noite dos Mortos Vivos de George Romero) para uma dança conjunta numa rua da cidade, enquanto Ray observa. Zumbis dançando é uma idéia bonitinha. O braço de um deles cai pouco antes da dança. As porções apenas dramáticas do video, incluindo os efeitos de transformação, são divertidos para se assistir uma ou duas vezes, mas não muitas vezes. E conceitualmente, o video lembra muito Dancing with Myself dirigido por Tobe Hooper com Billy Idol.
O Making Of inclui um trecho do video de Beat It (dirigido por Bob Giraldi), videos caseiros antigos do Jackson Five, e uma aparição gravada do grupo no The Ed Sullivan Show em 1970. Nas filmagens dos bastidores, o maquiador Rick Baker fala sobre Jackson, “O que ele mais queria era se transformar em monstro… ele adora maquiagem.” Então quando Jackson senta todo peludo e chifrudo na cadeira, lentes de gato são colocadas em seus olhos. “Elas não são inconfortáveis por pouco tempo,” Jackson explica em sua narração, mas “depois de 15 minutos, elas começam a irritar e doer.” O diretor Landis, que articulou todo tipo de monstruosidade no seu Lobisomem Americano, corre para o outro lado do quarto porque diz não aguentar assistir às lentes sendo introduzidas.
Em outro segmento do documentário, Landis pega Jackson do chão, o bota no ombro – no maior estilo bombeiro – e anda com ele como se fosse um brinquedo que chegou antes do Natal. Jackson parece tão distante e vivo – e fotogênico – quanto Greta Garbo. Ele é Garbo mais Jolson mais Astaire. Com uma dose de estranheza autêntica adicionada.
O video é precedido por um texto, letras brancas no fundo preto: “Devido às minhas fortes convicções pessoais, eu desejo enfatizar que este filme em nenhum modo endossa uma crença no oculto. Michael Jackson.” Pode parecer uma jogada pretensiosa, mas também pode representar a preocupação de Jackson pelos seus fãs mais jovens e as impressões que podem ser tiradas do filme. Seria interessante que estas crianças assistissem o documentário também, para que elas possam entender como os truques foram feitos e se lembrarem que truques são tudo o que eles são.
Jackson diz a Ray no começo do video (numa sequência filme-dentro-do-filme), “Eu não sou como os outros caras,” o que pode ser considerado o eufemismo do ano. No documentário, ele diz sobre Thriller que “eu queria que ele estimulasse as pessoas a fazerem clipes ou curtas melhores”. Não seria difícil fazer um melhor do que Thriller, mas aí você não teria Michael Jackson, teria? Algum dia quando formos muito mais velhos um performer aparecerá e será chamado de “o novo Michael Jackson,” mas o Michael Jackson que temos agora parece viver a fantasia de quem permanece para sempre novo.
Em um antigo e pouco visto video de Jackson e seus irmãos, Can You Feel It, incluído no documentário, Jackson semeia o universo com pó de estrelas e levanta um arco-íris. É uma imagem insinuante e apropriada. Nós não tínhamos uma estrela tão brilhante há muitos anos.
Título original da matéria: “The Monster Follies”.
Traduzido por Bruno Couto Pórpora p/ MJBEATS/EDYCHIS
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